Sebastiana diz que na
última semana teve fila na porta de sua casa para benzedura de todos os tipos
(Foto Gilvan Peters/A Razão)
Repercussão da crença popular
Benzeduras fazem parte da cultura brasileira
e são a esperança de muitas pessoas
No último final de semana, o jornal A Razão publicou reportagem especial sobre benzeduras. A matéria repercutiu durante toda a semana e a redação recebeu diversos telefonemas, emails e até mesmo visitas de pessoas querendo saber como encontrar as duas senhoras entrevistadas. Dona Sebastiana Alves de 72 anos e dona Helena Machado de 79 anos são benzedeiras há mais de 30 anos e se utilizam principalmente de arruda e água para realizar os serviços em pessoas, animais e alguns objetos.
Benzedura é o ato de curar uma pessoa doente ou
livrar de mal estar aplicando gestos e preces com possíveis poderes ocultos,
acompanhados por alguma erva, elemento da natureza e/ou objeto. Em alguns
lugares, as pessoas fazem até mesmo filas para receber um passe. Apesar da
resistência da ciência oficial, os efeitos das benzeduras são conhecidos há
bastante tempo em todo o país. A sabedoria e algumas técnicas dos benzedeiros
vêm dos conhecimentos trazidos da África pelos escravos. A sabedoria de cura
através de elementos encontrados na natureza ainda são comuns mesmo com o
avanço da medicina. Galhos de arruda, água, brasa, tesoura, ervas misturadas em
vinho ou cachaça são bastante utilizadas.
Reconhecimento cultural - A
professora do curso de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
Beatriz Weber, fez sua tese de doutorado sobre o universo das formas peculiares
de cura. A tese virou o livro Artes de Curar: medicina, religião, magia e
positivismo na República Rio- Grandense. Para Beatriz, a medicina formal ainda
tem uma série de fatores que não a faz acessível a todos e muitas vezes as
doenças possuem fundo psicossomático. Dessa forma, as pessoas acabam procurando
um recurso em que elas possam se reconhecer em seu universo cultural, por meio
de experiência espiritual, conversa, linguagem acessível ou consolo. Assim,
mesmo com recursos desenvolvidos da medicina, a população ainda recorre às
benzeduras.
“Essa semana teve até fila”
Em
Santa Maria, há um número significativo de benzedores. Alguns
são bastante conhecidos e respeitados em suas comunidades, pois conseguem curar
e/ou amenizar malefícios. Sebastiana Alves – a Bastiana, é uma dessas pessoas.
Moradora do Bairro Caturrita, ela benze desde os oito anos de idade e relata
que nunca procurou auxílio ou foi ensinada: “o dom vem na cabeça da gente”. Ela
não cobra pelas benzeduras.
Bastiana conta que nesta última semana teve fila
de carros na rua da sua casa e que desde que saiu no jornal o movimento
aumentou consideravelmente. Ela diz que benzeu de tudo; para viagem, para
doença e para amor. “Veio até uma senhora que estava separando do marido. Eu
disse para ela não separar porque ela tem o filho para criar e que as brigas
iriam passar e não se abandona a casa”, comenta. Dona Bastiana diz que deu uma
água doce para a moça e que depois disso ficou tudo bem.
A benzedeira salienta a história de um rapaz que
chegou à sua casa com dores de estômago e sem conseguir comer. “Eram duas
feridinhas que estavam nascendo no estômago dele, eu receitei um remédio que
não tem o sabor muito bom, mas se ele tomasse direitinho ia ficar curado.” Dona
Sebastiana divide a casa com quatro cachorros e cinco gatos. Um desses cães
chegou a sua casa com sarna e segundo ela, desde que começou a tratar dele com
urina e sal a doença está melhorando.
Leitura do reencontro
Na última quinta-feira, quando mais uma vez o
telefone da redação do jornal A Razão tocou, do outro lado da linha uma voz
eufórica procurava saber sobre as benzedeiras. Desta vez, de uma forma
especial. A funcionária pública Lia Mara Santos, queria saber como encontrar a
dona Sebastiana, pois há muitos anos queria saber seu paradeiro.
“Não sabíamos se ela estava viva e ficamos muito
felizes com a possibilidade de vê-la, tu tens o endereço dela?” De acordo com
Lia, a dona Bastiana trabalhou durante muitos anos na residência de sua família
e sempre foi muito querida por todos. Ao ficar sabendo da procura, a recíproca
foi verdadeira. Dona Bastiana se lembrou de Lia e afirmou que também deseja
reencontrar a família. “Eu lembro bem deles e guardei o jornal, eu sempre
guardo”, disse Sebastiana. O reencontro proporcionado pela reportagem deve
ocorrer nos próximos dias.
Dona Helena está no hospital
A benzedeira Helena Machado, moradora do Bairro
Medianeira está hospitalizada desde domingo. De acordo com seu esposo Luiz
Alberto Machado, ela pode receber alta até terça-feira, mas depende de como for
o final de semana. “Ela está bem, mas não convém vir para casa e os médicos
querem observar.” Machado diz que passa os dias no leito com a esposa, mas que
quando está em casa, chegam pessoas em busca de benzeduras.
Como encontrar a benzedeira
Dona Sebastiana não cobra pelo serviço e diz que
benze para todas as coisas, desde viagens, doenças, dinheiro e até amor. Ela
diz que benze para o bem e atende em sua residência, na Rua José Barin – passa
o Cemitério do Bairro Caturrita, no entroncamento com Vila Bela União.
(Publicado pelo jornal A Razão – Santa Maria / Postado
em 28 / 07 / 2012)
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